29 outubro 2013

O Portador do Adversário

Em qualquer cidade, em qualquer país, aventure-se atravessando rodovias e estradas solitárias até você chegar à periferia da cidade. Ande por entre aqueles abandonados pela sociedade, pedintes e pobres abusados pelas exigências daqueles em melhores condições. Você deverá se aproximar de um homem esfarrapado sob um grande carvalho, segurando uma garrafa de licor dentro de um saco de papel, sua camiseta está manchada de suor e suas calças sujas de lama, não tenha medo e pergunte se ele conhece aquele que se considera "O Portador do Adversário".

Mais do que provável, ele sorrirá sabiamente para você, como se fosse um velho amigo a quem você acabou de contar uma piada interna. Não se assuste; o homem sabe o que você procura. Os menos afortunados de nós sempre sabem de coisas que nós sequer sonharíamos saber. Ele o guiará para um bueiro, e casualmente afastará a tampa de metal com sua bota oleosa. Dando-lhe uma lanterna que funciona precariamente, ele encorajará você a descer na escuridão.

Uma vez dentro do ventre pútrido do sistema de esgoto, você perceberá que ali não há um cheiro desagradável - na verdade não há cheio algum. Entretanto, ao mirar a lanterna ao seu redor, você perceberá que está em uma sala redonda. Em todas as paredes estarão pendurados corpos parcialmente decompostos, seus donos para sempre pedurados em um estado de animação suspensa, sentindo a dor e o horror de um corpo apodrecendo e murchando ao seu redor. Cadáveres cobrem o chão, e você pode perceber que um quase o toca. Não tenha medo. Mostrar covardia trará criaturas que você desejaria não conhecer. 

Assim que você observar seus arredores, o cheiro começará. Será a pior coisa que você poderia imaginar: excremento humano e animal, enxofre, corpos apodrecendo, carne queimada. Você vai querer arrancar seu nariz da face, e seus olhos lacrimejantes quase o cegarão.

Mas não tema, não corra, e resista à vontade de vomitar. Você ouvirá um pensamento em sua mente, inegável: "Nós somos os restos daqueles que não conseguiram encarar o Adversário.". Não há uma origem deste sussurro, apesar de que parece que rodeia você como se fosse carregado por aquele cheiro. De repente, os corpos irão se romper e explodir, um a um, lançando mais daquele cheiro insuportável e cobrindo você de fluídos corporais e pedaços gosmentos de restos humanos.

Os cadáveres então afundarão no chão, e o que vai sair do lodo é uma criatura da mais pura beleza. Homem, mulher, ou qualquer outra coisa - depende de você. Não será possível afastar seus olhos dessa figura humana nua até que você perceba que a criatura é uma versão idealizada de você. Confiante, belíssimo, sorrindo-lhe gentil e pacientemente, será tudo que você sempre sonhou se tornar.

Você será tomado por um ciúme e raiva repentinos. Uma vontade de aniquilar esse você perfeito. Não faça isso, não importa o quão forte seja a tentação. Se você o fizer, estará condenado à ira do Adversário - o tormento eterno dos Condenados que você vira anteriormente. Só há uma pergunta que você deve fazer à bela criatura: "O que eles podem destruir?"

O Portador do Adversário rirá medlodicamente, condiscente, e explicará a você, uma criança pequena e estúpida, a resposta da sua pergunta. Ele não poupará os detalhes, até mesmo os mais horrendos. Apesar de terrível, será uma história interessante e calma de se ouvir, e em dado momento você se encontrará absorvido em uma fascinação infantil pelo Portador. Você comparará esta história com aquelas contadas por um ente querido ou guia na sua infância, e saberá que você tem a chave para derrotar o Adversário - aquilo que os Condenados não conseguiram ter.

Ao fim da história, o Portador perguntará, sorrindo, "O que você fará agora, minha criança?". Se mais alguma coisa for dita, ou algo diferente desta pergunta, seu destino estará selado, e quando você sair do esgoto, as pessoas esfarrapadas que você encontrou cairão sobre você como animais ferozes, rasgando sua carne com unhas e dentes, alimentando-se de seu corpo. Não há escapatória, apenas o conhecimento de que isso irá acontecer.

Seja qual for seu destino, o Portador colocará um Objeto na sua mão e a fechará. "Você não deve abrir sua mão até que esteja livre desse lugar.", dirá, como forma de despedida.

Agora você deve se virar e sair, sem olhar para trás. Assim que você escapar do esgoto, e se você tiver sorte, poderá abrir seus dedos. O que você encontrará ali será um soldado de brinquedo.

Esse brinquedo é o Objeto 14 de 538. Este sabe como derrotar seu maior inimigo, e jamais deve ser permitido a se unir com os outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário